domingo, 17 de julho de 2011

Dois sinais de stop obrigatórios


"Sinais de stop genéticos impossibilitam evolução", Mats:
«Suspeitava-se que o sinal de stop duplicado servia de segurança dupla para que o gene fosse copiado de forma correcta. Devido a isso, os investigadores removeram o segundo sinal de stop, assumindo que o mesmo seria supérfluo.» ... 
«Primeiro, em adição ao código para as proteínas transportada nos genes, esta sequência de stop genético é necessária para que qualquer mosca da fruta possa sobreviver. Por outras palavras, os genes e o ADN regulador fazem parte do sistema tudo-ou-nada.
Esta aparato está em contradição directa com a noção evolucionista da mosca ser o produto de um acréscimo gradual das suas partes. Se a mosca só funciona com os dois sinais de stop genéticos, então quando ela apareceu na Terra, ela já os possuía (isto é, foi criada assim).» ... 
«Segundo, estes resultados são acrescentados à sempre-crescente lista de sequências de ADN reguladoras que não codificam para proteínas mas são mesmo assim vitais.

Das palavras quem é citado
Alexandra Moreira (26 de Junho): ... «O IBMC pediu-me ajuda para responder ao seu email. 
Desde já agradeço o seu interese no trabalho do meu grupo. No entanto fiquei um pouco surpreendida por este artigo ser citado num blogue criacionista, já que a meu ver o trabalho não tem absolutamente nada a ver com evolucionismo ou criacionismo!

Neste trabalho mutámos (retiramos) um sinal de poliadenilação do gene polo ("pontos finais" dos genes; o gene polo tem dois). E verificámos que quando o fazemos as moscas da fruta morrem com defeito graves a nível do desenvolvimento. E mostramos que a razão para isto acontecer é que sem o segundo ponto final o gene deixa de ser funcional, porque quase que não produz proteína. A descoberta é importante porque até agora pensava-se que quando existiam mais que um "ponto final" nos genes, eles eram redundantes, e portanto se retirassemos um deles o organismo usaria o outro. E nós mostramos que isto não é assim, porque ao tirar o primeiro "ponto final" não acontece nada às moscas mas ao retirar o segundo, a mosca morre. Logo, estes dois "pontos finais" têm uma função importante na biologia do organismo.
Como não sou perita em evolução, pedi a opinião ao meu colega Dr. Jorge Vieira, que me enviou o seguinte:
O argumento é bom, mas revela ignorância. Na verdade a solução para este tipo de problemas já é conhecido desde há muito tempo e tem o nome de Dobzhansky-Muller model e podes encontrar uma referência a este tipo de modelos em qualquer livro de genética das populações básico. Este tipo de modelo é frequentemente citado para explicar porque é que duas espécies recentes produzem híbridos estéreis quando cruzadas, quando obviamente descendem as duas da mesma espécie ancestral. Logo as mutações responsáveis pelas incompatibilidades observadas tinham que ser viáveis no genoma ancestral. Então porque é que os genomas são agora incompatíveis? A solução é simples: uma primeira mutação que é tolerada pois não tem qualquer efeito, pode no entanto permitir a fixação de uma segunda mutação que no genoma ancestral era letal (e daí proibida). Ao cruzarmos espécies recentes observamos incompatibilidades pois estamos a produzir combinações de variantes que nunca foram testados por selecção natural e que muito provavelmente são incompatíveis. Usando um argumento semelhante é possível explicar a observação efectuada sobre os sinais de poliadenilação do gene  polo. O segundo sinal aparece no contexto de um gene que só tinha um sinal (pois todos os genes tem que ter um destes sinais). Por alguma razão ainda não esclarecida (mas que poderia ser eficiência de processamento do gene) a mutação que deu origem ao segundo sinal é vantajosa e como tal vai para a fixação. Nesta fase da evolução era conceptualmente possível apagar qualquer um dos dois sinais sem produzir letalidade. No entanto, outras mutações posteriores (possivelmente em outros genes localizados em outras regiões do genoma, como por exemplo proteínas envolvidas no processamento destes sinais) fazem com que agora não seja possível apagar qualquer um dos sinais sem consequências.

Envio-lhe em anexo o pdf do meu artigo.Espero ter ajudado!
Com os melhores cumprimentosAlexandra
Alexandra Moreira, D.Phil.Cell Activation and Gene ExpressionInstituto de Biologia Molecular e Celular - IBMCRua do Campo Alegre, 8234150-180 PortoPortugalPhone: +351 226074951Fax: +351 226099157http://www.ibmc.up.pt»
O artigo tem o título "RNA polymerase II kinetics in polo poluadenylation signal selection" e foi publicado no The EMBO Journal. Cópias podem ser facilmente encontradas na Web, por exemplo no site da Nature
  1. Alexandra Moreira: «A descoberta é importante porque até agora pensava-se que quando existiam mais que um "ponto final" nos genes, eles eram redundantes, e portanto se retirassemos um deles o organismo usaria o outro.E nós mostramos que isto não é assim, porque ao tirar o primeiro "ponto final" não acontece nada às moscas mas ao retirar o segundo, a mosca morre. Logo, estes dois "pontos finais" têm uma função importante na biologia do organismo.»
  2. Mats citando Alexandra Moreira: «Quando construímos a mosca usando apenas o primeiro sinal de stop, os resultados são letais. . . . Quando o segundo sinal de stop é removido, as moscas da fruta nasciam com um abdómen mal formado e o resultado foram insectos mortos.»; Com isso Mats concluiu: «Se a mosca só funciona com os dois sinais de stop genéticos, então quando ela apareceu na Terra, ela já os possuía (isto é, foi criada assim)»

Design
"Distributed Systems - Principles and Paradigms", Andrew S. Tanenbaum, Maarten van Steen (Fault Tolerance, 7.1.3 Failure Masking by Redundancy): «If a system is to be fault tolerance, the best it can do is to try to hide the occurrence of failures from other processes. The key technique for masking fault is to use redundancy.» ... «With information redundancy, extra bits are added to allow recovery from garbled bits. For example, a Hamming code can be added to transmitted data to recover from noise on the transmission line.»

Mats: «Da mesma forma que os efeitos da remoção do volante dum carro demonstra que mesmo é o resultado de engenharia propositada, a remoção de apenas um destes sinais de stop da mosca demonstra que toda a mosca é sem dúvida o resultado de engenharia propositada.» 
O primeiro automóvel movido a gasolina, o Benz:


Mercedes Benz SCL600:





Notas

  1. O Mats remove e não aprova os meus comentários nos seus blogs. 
  2. Este blog é um espaço temporário com várias anotações para um futuro site criado de raiz. 
  3. Indiquem mais dados relevantes nos comentários. 
  4. Apresentem sugestões para o futuro site. 
  5. Criacionistas: dêem a vossa opinião. 
  6. Noutro blog mostrei outro exemplo do modo como Mats investiga os assuntos e cita as fontes: http://troll-provas.blogspot.com/2011/07/mais-propensos-supersticao.html .